O repórter Nuno Moura Brás cobriu guerras em Angola, no Golfo e na Bósnia. Conta algumas histórias e fala daquilo que é fazer reportagem de guerra.
Nuno Moura Brás, repórter da Antena 1, cobriu a guerra civil angolana, a primeira guerra do Golfo Pérsico e a guerra da Bósnia-Herzegovina. Destaca a autenticidade “fantástica” das relações humanas em cenário de guerra.
Recorda as imagens guardadas da guerra, que o marcam até hoje. Fala das decapitações que viu em Angola e descreve-as como “fisicamente complicadas”. “A coisa mais parecida que eu tinha visto tinha sido num filme... no Apocalipse Now”. Mas, como explica, a realidade suplanta sempre a ficção.
“[Na guerra] o medo é uma constante”, diz. Mas, como explica, “essas coisas são como os grandes amores”. Admite que, por vezes, não se para muito tempo para pensar e que acaba por se arriscar demasiado. No entanto, “um repórter de guerra não é um suicida”, frisa.
Explica que não vale tudo para se conseguir uma estória e que há valores muito superiores à notícia, como a vida, mas acha que se devem correr todos os riscos que se achar necessários para conseguir uma notícia.“Isto é um compromisso de sangue”, afirma. “E só não o é para os cínicos.” E cita Kapuściński para explicar que “os cínicos não servem para este ofício”.
O repórter de guerra sai, por vezes, do papel de jornalista para passar a fazer parte da própria estória, que normalmente reporta. Conta um episódio em que ajudou a socorrer uma pessoa que estava a morrer, enquanto a preocupação de uns jornalistas americanos era apenas captar aquele momento. “Pegamo-nos à pancada. Eles porque eu lhes estraguei o plano excelente e eu porque achava aquilo inconcebível”, explica.
Apesar de nunca ter feito reportagem de guerra embedded e de não se ter sentido condicionado na guerra do Golfo, Nuno Moura Brás admite ter sido alvo de censura nesses cenários. “ [Em Sebrenica]procuraram o material todo: gravações, apesar de não entenderem, e ficaram com tudo o que tivesse som”.
Áudio: Nuno Moura Brás conta como foi censurado em Sebrenica
Conta que normalmente não andava identificado como jornalista. “Eu andava sempre ‘à civil’. Até para que as pessoas reagissem naturalmente”, explica. No entanto, por vezes isso pode causar problemas. O repórter conta um episódio da guerra da Bósnia em que, por não estar identificado, foi detido por suspeitas de espionagem.
Mas a guerra não é só feita de coisas más, como explica Nuno Moura Brás. “A partilha que nós tínhamos, do pouco que tínhamos, uns com os outros era excelente”, recorda. “Vive-se como se fosse a última vez em tudo”, conta.
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